Sentar-se à janela do avião

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Hoje gostaria de compartilhar com vocês outro texto que sempre gostei muito, escrito pelo Alexandre Garcia, jornalista.

É uma reflexão sobre como conduzimos a nossa vida, o nosso dia-a-dia.

Nos últimos tempos tenho percebido o quanto as pessoas se mostram muito ocupadas, sem tempo para nada, em uma correria sem fim.

E nessa correria as pessoas deixam de ver, apreciar ou contemplar coisas, situações ou pessoas e passam a viver no piloto automático. Passam a não dar importância ou a não perceber os pequenos detalhes que a vida proporciona, como aquela linda árvore no meio daquela avenida super movimentada, um pôr-do-sol inusitado em meio a tantos edifícios, os pássaros voando livres, o amor, o carinho e o cuidado que o outro sente por nós, aproveitar os momentos livres para curtir a família, os filhos, os netos, os amigos.

Se mantivermos a nossa vida assim, no piloto automático, tudo isso se perde, tudo perde o seu significado e passa a não ter o seu devido valor. Sentar-se à janela para contemplar todos os momentos da vida é uma escolha que acredito que todos deveriam fazer para não perder um instante sequer dessa passagem. Sejam esses momentos alegres ou tristes. Sim, os momentos tristes também fazem parte desse processo, sem eles não nos conheceríamos tão bem, são vivências que nos trazem experiência, amadurecimento, crescimento pessoal e, principalmente, aprendizado.

A dinâmica da vida é assim, ela se transforma a cada instante, a cada segundo!

Sente-se à janela e aprecie e contemple a sua viagem!

Foto: Craig C. Olsen - National Geographic

Sentar-se à Janela do Avião

Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião.

A ansiedade de voar era enorme. Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o vôo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista cada vez mais rápido até a decolagem. Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul. Tudo era novidade e fantasia…

Cresci, me formei e comecei a trabalhar.

No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante. As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia. No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de
menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal. O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse. Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido. As poltronas do corredor agora eram exigência.
Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.

Por um desses maravilhosos ‘acasos’ do destino, estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível… O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona.
Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque. Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela. Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar. E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara. Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu. Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer.

Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista…

Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu trabalho e convívio pessoal?

Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela janela da nossa vida. A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias, tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos. Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.

Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor, para embarcar e desembarcar rápido e ‘ganhar tempo’, pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar. A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante. Não sabemos quanto tempo ainda nos resta.

Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe.

Afinal, a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos.

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