Escolhas fazem parte do processo de desenvolvimento do ser humano. Em diversos momentos da vida precisamos fazer escolhas e definirmos o que queremos, saber que caminho seguir. Não é tarefa fácil tomar uma decisão, já que quando escolhemos algo, automaticamente a outra opção é eliminada.
A dificuldade em se definir por algo parece estar diretamente ligada ao fato de não querer abrir mão da outra opção, justamente pelo fato dela ter que “ser eliminada” (pelo menos no nosso consciente). Aquela pessoa que tem dificuldade em se definir é considerada uma pessoa indecisa e insegura, sendo que na verdade, ela gostaria mesmo é de ter tudo. Ela “abraçaria” o mundo se possível, mas infelizmente não é assim que funciona.
Escolher implica em mudança, em definir-se definitivamente (redundante mesmo). Ter que se definir por algo que pode dar certo, ou não…. E, talvez pelo fato de existir a possibilidade de poder dar errado, seja muito assustador para o indivíduo mudar seus hábitos e costumes que estão enraizados há tantos anos. Por trás disso está o medo de fracassar e de depois se arrepender da decisão tomada. Todos dizem que errar é humano, mas ninguém gosta de cometer erros. A escolha implica em o indivíduo ter que assumir as consequências e os riscos de tal decisão, o que já foi comentado no outro post sobre mudança.
Penso o mesmo quando relacionamos tal assunto com a qualidade de vida, alimentação e prática de exercícios. Por que é tão difícil escolher ser uma pessoa mais saudável? Acredito que o medo de falhar é muito grande, já que o fracasso não é bem visto pelas pessoas (o que é contráditório… quem nunca falhou na vida?). É preciso aprender a lidar com os fracassos e frustrações. De fato, nem tudo sai como planejado, mas parece que as pessoas se esquecem disso e tornam-se muito exigentes consigo mesmas e com os outros também. Quando uma pessoa decide iniciar uma dieta, uma prática de exercício para melhorar sua qualidade de vida, por exemplo, ela está definindo o que quer para a sua vida, mas para isso é preciso abrir mão de outras coisas que ela tanto gostava. Para que o processo de escolha se desenvolva e evolua até o seu final é preciso ter paciência, pois o resultado nunca é imediato (principalmente na mudança de hábitos).
E parece que o fato de ter que esperar para ver, sentir ou vivenciar o resultado final (por mais benéfico que seja) faz com que a pessoa fique sempre na dúvida e tentada a desistir no meio do caminho e voltar atrás para aquele meio conhecido, por ser muito cômodo. Porém, ela deve também estar consciente de que em alguns momentos a vontade de desistir será grande e que provavelmente tentará se boicotar e escorregar em alguns momentos. Mas não é porque saiu uma vez da nova rotina que ela não tem capacidade para retomar e mantê-la. Recaídas fazem parte do processo, elas são esperadas, depende de como você lida com elas (como algo para ser superado ou como um fracasso).
É sempre bom pesar prós e contras para que se tenha uma melhor definição. E quando tiver vontade de voltar atrás, pense consigo mesmo se vale realmente a pena ser como antes. Pense nos motivos que o levaram a abandonar alguns costumes ou hábitos para adquirir outros e pergunte-se sempre por que e do que sente medo.
É preciso ter atitude e muita determinação em continuar no caminho escolhido. É necessário também aceitar o fato de que tal caminho pode ser obscuro, com algumas pedras, mas que não é impossível de passar. Depende realmente de você.
Encerro o artigo com um texto muito bom da Matha Medeiros.
Tenha um ótimo final de semana!
(*) Adriana Takahashi – Contato: [email protected]
“As escolhas de uma vida” – Martha Medeiros
A certa altura do filme Crimes e Pecados, o personagem interpretado por Woody Allen diz: “Nós somos a soma das nossas decisões”. Essa frase acomodou-se na minha massa cinzenta e de lá nunca mais saiu.
Compartilho do ceticismo de Allen: a gente é o que a gente escolhe ser, o destino pouco tem a ver com isso. Desde pequenos aprendemos que, ao fazer uma opção, estamos descartando outra, e de opção em opção vamos tecendo essa teia que se convencionou chamar “minha vida”. Não é tarefa fácil. No momento em que se escolhe ser médico, se está abrindo mão de ser piloto de avião. Ao optar pela vida de atriz, será quase impossível conciliar com a arquitetura. Se é a psicologia que se almeja, pouco tempo sobrará para fazer o curso de odontologia. Não se pode ter tudo.
No amor, a mesma coisa: namora-se um, outro, e mais outro, num excitante vaivém de romances. Até que chega um momento em que é preciso decidir entre passar o resto da vida sem compromisso formal com alguém, apenas vivenciando amores e deixando-os ir embora quando se findam, ou casar, e através do casamento fundar uma microempresa, com direito a casa própria, orçamento doméstico e responsabilidades. As duas opções têm seus prós e contras: viver sem laços e viver com laços. Escolha.
Morar em Londres ou numa chácara? Ter filhos ou não? Posar nua ou ralar atrás de um balcão? Correr de kart ou entrar para um convento? Fumar e beber até cair ou virar vegetariano e budista? Todas as alternativas são válidas, mas há um preço a pagar por elas.
Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses, ser casados de segunda a sexta e solteiros nos finais de semana, ter filhos quando se está bem-disposto e não tê-los quando se está cansado, viver de poesia e dormir em hotel 5 estrelas. No way.
Por isso é tão importante o auto-conhecimento. Por isso é necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que a gente é. Lógico que se deve reavaliar decisões e trocar de caminho: ninguém é o mesmo para sempre. Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar, e não para anular a vivência do caminho anteriormente percorrido. A estrada é longa e o tempo é curto. Quanto menos a gente errar, melhor.