Essa semana estava fazendo “a limpa” nos meus emails e encontrei um da Martha Medeiros (já postei um texto dela AQUI) que havia compartilhado com a minha lista de amigos e pacientes há muito tempo, pelo menos uns 3 anos.
Eu o li e achei que deveria enviá-lo de novo e postá-lo aqui para lembrar às pessoas que, por mais difícil que sejam alguns momentos, é preciso se divertir e curtir a vida, libertar-se de algumas amarras, arriscar-se nesse mundo. Sair do comodismo!
É um texto que fala sobre amadurecimento e como algumas pessoas “cultivam” uma dor/sofrimento por tempos e se prendem à situações que não têm mais como resolver simplesmente para justificarem a sua existência, acomodando-se nisso por já “saberem” o que vai acontecer depois.
Não que estas sejam pessoas masoquistas, mas porque não aprenderam a agir de outra forma, a não ser se vitimizando e por ter medo de se arriscar no novo/desconhecido. Sim, o desconhecido gera medo, angústia, incertezas. Mas, quem disse que tudo nessa vida tem que ser previsível??
São pessoas que se prendem a histórias q não voltarão mais, buscam respostas a qualquer custo, sendo q algumas coisas não têm resposta, elas simplesmente acontecem.
Tenham uma boa leitura e reflitam sobre o quanto você está ou não se divertindo nessa viagem sem roteiro que é a vida!
Um ótimo final de semana a todos!
Cresça e divirta-se (Por Martha Medeiros)
Tenho viajado bastante para acompanhar algumas pré-estreias do filme Divã, baseado no meu livro homônimo. Delícia de tarefa, ainda mais quando a gente gosta de verdade do trabalho realizado, e esse filme realmente ficou enxuto, delicado e emocionante. Além disso, ainda consegue me provocar. A personagem Mercedes (vivida pela incrível Lilia Cabral) está fazendo análise e leva pro consultório muitos questionamentos sobre sua vida. Até que, passado um tempo, finalmente relaxa e se dá conta de que não há outra saída a não ser conviver com suas irrealizações. Diante disso, o analista sugere alta, no que ela rebate: Alta? Logo agora que estou me divertindo?
Eu tinha esquecido dessa parte do livro, e quando vi no filme, me pareceu tão cristalino: um dos sintomas do amadurecimento é justamente o resgate da nossa jovialidade, só que não a jovialidade do corpo, que isso só se consegue até certo ponto, mas a jovialidade do espírito, tão mais prioritária.
Você é adulto mesmo?
Então pare de reclamar, pare de buscar o impossível, pare de exigir perfeição de si mesmo, pare de querer encontrar lógica pra tudo, pare de contabilizar prós e contras, pare de julgar os outros, pare de tentar manter sua vida sob rígido controle.
Simplesmente, divirta-se. Não que seja fácil. Enquanto que um corpo sarado se obtém com exercício, musculação, dieta e discernimento quanto aos hábitos cotidianos, a leveza de espírito requer justamente o contrário: a liberação das correntes. A aventura do não-domínio.
Permitir-se o erro.
Não se sacrificar em demasia, já que estamos todos caminhando rumo a um mesmo destino, que não é nada espetacular. É preciso perceber a hora de tirar o pé do acelerador, afinal, quem quer cruzar a linha de chegada? Mil vezes curtir a travessia.
Dia desses recebi o e-mail de uma mulher revoltada, baixo-astral, carente de frescor, e fiquei imaginando como deve ser difícil viver sem abstração e sem ver graça na vida, enclausurada na dor. Ela não estava me xingando pessoalmente, e sim manifestando sua contrariedade em relação ao universo, apenas isso: odiava o mundo. Não a conheço, pode sofrer de depressão, ter um problema sério, sei lá. Mas há pessoas que apresentam quadro depressivo e ainda assim não perdem o humor nem que queiram: tiveram a sorte de nascer com esse refinado instinto de sobrevivência.
Dores, cada um tem as suas. Mas o que nos faz cultivá-las por décadas? Creio que nos apegamos com desespero a elas por não ter o que colocar no lugar, caso a dor se vá. E então se fica ruminando, alimentando a própria “má sorte”, num processo de vitimização que chega ao nível do absurdo. Por que fazemos isso conosco?
Amadurecer talvez seja descobrir que sofrer algumas perdas é inevitável, mas que não precisamos nos agarrar à dor para justificar nossa existência.