Na minha experiência pessoal que se estende por quatro décadas de acompanhamento de portadoras de PCOS, desde o tempo em que o tratamento consistia na ressecção cuneiforme dos ovários até o presente quando recorremos principalmente ao citrato de clomifene para induzir a ovulação, que me perguntava se era a tendência diabética que provocava o desenvolvimento dos ovários policísticos ou os ovários policísticos que através da produção excessiva de andrógenos determinava ganho de peso e eventualmente o diabetes. Atualmente a síndrome é considerada a endocrinopatia mais comum em mulheres na idade de conceber e é particularmente comum em mulheres de origem africana e latinas.2
A síndrome se caracteriza por pubarca precoce, menarca tardia, oligomenorréia, hiper-androgenismo, policistose ovariana, tendência à obesidade, infertilidade, elevada incidência de aborto espontâneo e tendência a desenvolver diabete gestacional. A resistência a insulina com conseqüente hiper-insulinemia e hipoglicemia podem ser demonstradas em mais da metade das pacientes e em praticamente todas as portadoras da síndrome a herança diabética pode ser demonstrada. Uma prova de tolerância a glicose alongada é útil na caracterização da resistência à insulina. A maioria das minhas pacientes refere enxaqueca, cefaléia, sonolência e tonturas associadas geralmente à hipoglicemia, além de apresentarem obesidade central e ombros mais largos do que os quadris como conseqüência do hiper-androgenismo, que também ocorre em homens com herança diabética. Em alguns casos um ou mais sintomas podem faltar. Até a policistose ovariana pode não ser demonstrada ou por deficiência técnica da ultra-sonografia ou por tratamentos que inibem a ovulação.
O uso de anti-diabéticos, principalmente da metformina (dimetil-biguanide) ocupa hoje uma posição importante na terapia da PCOS. A dose cheia (850 mg três vezes ao dia após as refeições) provoca não somente a perda de peso e diminuição do androgenismo como também a regularização do ciclo e ocorrência de gravidez. A associação do citrato de clomifene ao anti-diabético pode ajudar na indução da ovulação quando a metformina for insuficiente, mas a continuidade do uso da metformina durante a gravidez é indispensável para prevenir o abortamento ou o parto prematuro, a despeito da droga continuar a ser vendida com bulas que contra-indicam o seu uso durante a gravidez. A metformina não é teratogênica e além de diminuir o risco de abortamento de 60 para 6% diminui o risco de diabetes gestacional, macrossomia fetal e ganho excessivo de peso da gestante.
Para mulheres que têm intolerância a metformina administrada na dose cheia de 2,5 gramas por dia, doses mais baixas podem ser utilizadas com sucesso. A metformina XR de efeito prolongado foi lançada recentemente, mas experiência com o seu uso ainda é limitada. Outros anti-diabéticos como a rosiglitazona e a pioglitazona podem ajudar na indução da ovulação, mas o seu uso durante a gestação não é indicado.
Para as mulheres que têm intolerância a metformina a melhor maneira de combater a resistência à insulina é através do exercício físico aeróbico e da dieta. A redução de peso poderá resultar no restabelecimento da função ovariana e conseqüentemente propiciar a gravidez. Em casos mais graves de obesidade a redução do estômago pode ser um recurso salvador.